Referes-te à dor como se ela se te constituísse punição imerecida, injustificável interferência nas actividades da tua existência.
Armas-te de revolta e investes contra o sofrimento, tombando em crise de desequilíbrios e alucinações em decorrência de enfoques defeituosos e de atavismos utilitarista que te assinalam a vida.
A dor, no entando, resulta de uma necessidade imperiosa da evolução.
Sem ela dificilmente conseguirias bendizer a felicidade, da mesma forma que, sem o concurso da sombra, não te darias conta da elevada mensagem da luz. Não conhecendo a enfermidade, sentir-te-ias sem condição de valorizar a saúde.
A dor pode ser considerada como um fórceps, de que se utiliza a vida para arrancar belezas nas almas calcetas, que jazem prisioneiras das couraças do primitivismo ancestral. Quando, no entanto, o ser é dúlcido e acessível, a dor nele funciona como um arco delicado que tange, no violino dos sentimentos, leves acordes de uma balada sublime de amor.
Com o seu concurso, nascem os heróis e se forjam os santos: faz-se companheira dos caracteres nobres e é irmã da reflexão, cujo concurso invoca ao instalar-se imo da criatura humana.
Joanna de Angelis
"Rumos Libertadores"
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